Mãe (Caetano Veloso)
Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão
Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estás
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti
© 1978 Ed. Gapa / Saturno - Álbum Água Viva - Gal Costa.
Comentário do autor: "É uma canção que nunca cantei em público. Primeiro, porque a considerava meio cafona, com uma letra muito lamentosa e subjetivista, pouco clara; hoje não acho. Em segundo lugar, tenho uma espécie de superstição, porque ela, de fato, nasceu de uma sensação de profunda tristeza, de quase depressão, e toda vez que eu cantava ela me provocava aquela tristeza, a mesma sensação. Então eu deixei de cantar. Gosto da letra, que diz “eu sou um rei que não tem fim”, depois afirma “eu sou um homem tão sozinho”, e diz, enfim, “sou triste, quase um bicho triste”. Gosto dessa gradação: “rei”, “homem”, “bicho”. A gravação de Gal é muito bonita." (Caetano Veloso. Livro Sobre as letras. Companhia das Letras, 2003).
“Escrevi Mãe para mim mesmo. Como digo em Noite de Hotel, o ato mero de compor uma canção foi naquela ocasião muito necessário”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2003).