Michelangelo Antonioni (Caetano Veloso)

Visione del silenzio
Angolo vuoto
Pagina senza parole
Una lettera scritta
Sopra un viso
Di pietra e vapore
Amore
Inutile finestra

© 2000 Uns Produções (Natasha) - Álbum Noites do Norte - Caetano Veloso. 

Comentário do autor: "Compus a música imaginando todos os elementos do arranjo que dei ao Jaquinho Morelenbaum. Queria que fosse aquela orquestra quase minimalista, mas dinâmica, como fizemos com Cucurucucu Paloma e outras coisas em Fina Estampa; mas em determinado momento, naquele momento específico como está no disco, entrava um baixo e um vibrafone. Como nos grupos de jazz moderno do início dos anos 60 e final dos anos 50, exatamente no período em que vi os primeiros filmes de Antonioni. Acho que soa como esses filmes: meio jazz, quarteto de jazz moderno. Escrevi as letras em italiano, que é uma língua que mal falo. Escrevi alguns versos para que tudo ficasse bem. Mandei para Antonioni, para ele saber se aprovava. Fiquei muito feliz ao receber uma resposta dizendo que ele aprovou com entusiasmo, e achou fino o italiano." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

"Adorei "L'avventura" quando o filme saiu. Depois reagi ao esnobismo dos meus amigos e conhecidos que, nos anos 60, queriam desmerecer Fellini e para isso exaltavam Antonioni. Reencontrei muito da beleza de "L'avventura" em "A Noite" e "O Eclipse". Não estive entre os mais entusiásticos fãs de "Blow up". Mas defendi "Zabriskie point" dos que queriam negá-lo totalmente. Depois vi (tardiamente) "O Deserto Vermelho" e, finalmente, "Passageiro: Profissão Repórter", de que gostei tanto quanto de "L'avventura". Eu já tinha feito uma canção chamada Giulietta Masina e, por causa de minha notória admiração por Fellini, um show para a fundação que leva seu nome. Mas Federico e Giulietta morreram sem que eu pudesse chegar a conhecê-los. Antonioni veio ao Brasil e eu, cinéfilo e cineasta excêntrico, fui o único convidado para os dois jantares que dois cineastas divergentes (Cacá Diegues e Júlio Bressane) lhe ofereceram. O velho e eu gostamos um do outro desde o primeiro jantar. Ele riu ao me rever no segundo. Antonioni não fala há anos, sequela de um derrame (Fellini morreu depois de um), mas se comunica com grande vivacidade. É um homem adorável e um artista original e verdadeiro. Fiz essa canção em italiano, uma língua que não "domino", para, com pouquíssimas palavras, reproduzir o clima que as imagens de Antonioni despertam em mim. Mesmo os italianos acham que as palavras estão justas." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

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