Noite de Cristal (Caetano Veloso)

Noite, centelha de noite
Noite luzidia
Nua na telha de vidro
Nua mãe Maria
Noite multiplica o brilho
Voz de agudo som
Chuva de arroz, trigo e milho
Noite de Ano Bom

Noite-prisma
Momento total
O mundo cisma
Mas eu miro teu cristal
E vejo e peço dias
De outras cores,
Alegrias
Para mim
Pra o meu amor
E meus amores.

© 1988 Saturno - Álbum Maria - Maria Bethânia. Gravada por Caetano Veloso no álbum Meu Coco (2021). 

Comentário do autor: "Bethânia, minha genial irmã, tinha me pedido uma música pra seu disco faz tantos anos. Agora, ela mesma me relembrou essa canção quase esquecida e fiquei encantado com a beleza. Canções assim nem me lembro que são minhas. Adoro que termine com a expressão "meus amores". Adoro esse plural. E a música toda é bonita. Márcio Victor juntou uma turma na Bahia e pôs a percussão com que eu sonhava. O disco fecha com minha voz cantando "E do Carlinhos Brown", que foi quem primeiro gravou essa música com Bethânia e quem pôs "a banda do Olodum" entre as estrofes." (Caetano Veloso para o storyline do Spotify, 2021).

"[É sobre] o telhado de nossa casa em Santo Amaro, na Bahia. Conseguíamos ver parte da lua, ou sua luz, de nossas camas". (Caetano Veloso para a AFP, 2021).

“Escrevi Noite de Cristal no final dos anos 1980 pra Maria Bethânia gravar. Fiquei desenhando o rosto dela cercado de cores enquanto ouvia a música que encerra o album Meu Coco. Carlinhos Brown gravou com ela nos 80. Foi ele quem pôs "a banda do Olodum" na jogada. Então, agora que sou eu a cantar, faço o retrato de Bethânia e canto o nome de Brown.” (Caetano Veloso sobre o visualizer da faixa, 2021).  

"Bethânia me pediu pra gravar e disse: "Você devia gravar aquela música Noite Luzidia". Ela própria lembrou de um dos versos, mas não do título. O título é Noite de Cristal, Noite Luzidia teria sido melhor. Mas é que, na verdade, essa música é de uma lembrança minha, e que também é de Bethânia. Na casa onde a gente cresceu em Santo Amaro, a maioria dos quartos, onde eu dormia, por exemplo, não tinha forro, era direto nas telhas. E sempre, em cada cômodo, tinha uma telha de vidro, pra que entrasse o sol durante o dia. Então, você podia ver a lua às vezes, ou somente a luz da lua. É sobre isso, sobre aquela experiência de estar na cama de noite e ter a lua nua na telha de vidro. Ela lembrou da música e pediu pra eu relembrá-la, porque a música não chegou a ficar conhecida, que eu saiba. E quando eu fui ouvi-la, porque eu não lembrava, achei bonita pra caramba." (Caetano Veloso para a Revista Noize, 2023).

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