O Menino (Caetano Veloso)

Nuvens de tormenta, estrela-d'alva
Nunca venta, sempre lacre e breu
Nasce uma criança entre nós homens
O menino aguenta
O menino salva
O menino é eu
O menino sou eu

Nada vale, não, não vale nada
Tudo desde sempre se perdeu
Lágrimas no vale caem, somem
O menino nada
O menino homem
O menino é eu
O menino sou eu

Sangue escuro no meu coração
Noite sobre a terra e sobre o mar
Eis porém que vem essa criança
Eis a estrela-d'alva!

O menino salva as madrugadas
Nada contra a força da maré
Viro para o céu e olho na cara
O menino aguenta
O menino d'alva
O menino sou eu
O menino é

© 2011 - Álbum Recanto - Gal Costa.

Comentário do autor: "Compus O Menino em minha casa da Bahia, na presença de meus dois filhos menores. Tom e Zeca riam dos primeiros esboços cantados ao violão, sem letra, pois achavam que parecia tema do videogame Zelda. Na verdade, eu estava pensando no Rabotnik. As palavras da letra surgiram quando pensei no filho de Gal, Gabriel, e em como ele traz alegria a ela. Mas logo a imagem do surgimento de uma criança me trouxe Hanna Arendt dizendo que o maior acontecimento da história da humanidade foi o nascimento de Cristo, Jorge Mautner dizendo “uma criança nasceu entre nós” e “Jesus de Nazaré inaugurou a ideia de direitos humanos”, e, finalmente, a fé cristã dos meus filhos que estavam sentados ali comigo. Não tenho fé religiosa, mas tenho sido levado a pensar muito nesse tema do cristianismo como núcleo da modernidade". (Caetano Veloso em entrevista no lançamento do disco Recanto, 2011). 

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