O Nome da Cidade (Caetano Veloso)

Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô, ê boi! ê bus!

Onde será que isso começa
A correnteza sem paragem
O viajar de uma viagem
A outra viagem que não cessa
Cheguei ao nome da cidade
Não a cidade mesma espessa
Rio que não e rio: imagens
Essa cidade me atravessa

Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô, ê boi! ê bus!

Será que todo me interessa
Cada coisa é demais e tantas
Quais eram minhas esperanças
O que é ameaça e o que é promessa
Ruas voando sobre ruas
Letras demais, tudo mentindo
O Redentor que horror! Que lindo!
Meninos maus, mulheres nuas

Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô, ê boi! ê bus!

A gente chega sem chegar
Não há meada, é só o fio
Será que pra o meu próprio rio
Este rio é mais mar que o mar

Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô, ê boi! ê bus!
Sertão...
Sertão, ê mar!

© 1984 Ed. Gapa / Saturno - Álbum A Beira e o Mar - Maria Bethânia.

Comentário do autor: "Bethânia estava preparando um espetáculo todo inspirado em "A hora da Estrela", de Clarice Lispector. Tentei fazer uma canção de chegada ao Rio. Como sempre, não busquei tempo para retrabalhá-la bem. Entreguei achando-a ainda insatisfatória. Depois, anos depois, ouvi Adriana Calcanhoto cantá-la e achei bonita. Na verdade fui tentar cantá-la eu próprio, em casa, e fiquei emocionado." (Caetano Veloso. Livro: Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).

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