Onde Eu Nasci Passa Um Rio (Caetano Veloso)

Onde eu nasci passa um rio
Que passa no igual sem fim
Igual sem fim minha terra
Passava dentro de mim

Passava como se o tempo
Nada pudesse mudar
Passava como se o rio
Não desaguasse no mar

O rio deságua no mar
Já tanta coisa aprendi
Mas o que é mais meu cantar
É isso que eu canto aqui

Hoje eu sei que o mundo é grande
E o mar de ondas se faz
Mas nasceu junto com o rio
O canto que eu canto mais

O rio só chega no mar
Depois de andar pelo chão
O rio da minha terra
Deságua em meu coração

© 1967 Arlequim - Álbum Domingo - Caetano Veloso e Gal Costa. Interpretada por Caetano Veloso. 

Comentário do autor: "A graça está mais na melodia, que é muito parecida com a de "Upa neguinho", do Edu Lobo. Eu fiz a música quando estava morando na Bahia e, mais tarde, quando estava em São Paulo, mostrei-a ao Edu e à turma do Zumbi [musical Arena conta Zumbi, montagem de Augusto Boal (1965)]. A peça ainda não tinha estreado, eles estavam ensaiando e as músicas eram completamente desconhecidas. Cantei para eles e todo mundo disse: "Parece 'Upa neguinho', a música da peça!". Quando se canta uma e outra, percebe-se a semelhança: "Upa neguinho na estrada, upa pra lá e pra cá...", "Onde eu nasci passa um rio, que passa no igual sem fim...". Mas a melodia de ambas também se parece muito com um baião de Luiz Gonzaga: "Helena, traga a sanfona...". (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

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