Os Outros Românticos (Caetano Veloso)
Eram os outros românticos, no escuro
Cultuavam outra idade média, situada no futuro
Não no passado
Sendo incapazes de acompanhar
A baba Babel de economias
As mil teorias da economia
Recitadas na televisão
Tais irredutíveis ateus
Simularam uma religião
E o espírito era o sexo de Pixote então
Na voz de algum cantor de rock alemão
Com o ódio aos que mataram Pixote a mão
Nutriam a rebeldia e a revolução
E os trinta milhões de meninos abandonados do Brasil
Com seus peitos crescendo, seus paus crescendo
E os primeiros mênstruos
Compunham as visões dos seus vitrais
E seus apocalipses mais totais
E suas utopias radicais
Anjos sobre Berlim
"O mundo desde o fim"*
E no entanto era um SIM
E foi e era e é e será sim
(They were the other romantics, in darkness
They made a cult of another middle age
Located in the future not in the past.
Being incapable of following
The blah blah babel of economics recited on television
These irreducible atheists
Simulated a religion
And the Spirit was the sex of Pixote
In the voice of some German rock singer
With hatred for those who killed Pixote by hand
They nurtured rebellion and revolution
And the thirty million abandoned kids of Brazil
With their tits growing, their dicks growing,
Their first menstruations
Composed the visions in their stainglass windows
And their most complete apocalipses
And their radical utopias
Angels over Berlin
The world since the end
And all the while it was a YES
It has been, it was, it is, and will be YES)**
* Antônio Cícero - Luciano Figueiredo - Khliebnikov
** Tradução de Arto Lindsay
© 1989 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Estrangeiro - Caetano Veloso.
Comentário do autor: "A gravação da faixa Estrangeiro ficou muito bonita. A de Outros Românticos ficou linda. Lembro que queria muito que tivesse um aspecto reggae, mas o Peter Sherer disse que não suportava reggae: "uma coisa chata, que todo mundo faz". Argumentei que no Brasil isso era importante e encontramos um jeito, meio seis por oito, mas com um aspecto de reggae e ficou legal." (Caetano Veloso. Livro Tantas Canções. Universal Music, 2003).