Podres Poderes (Caetano Veloso)
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será, que será, que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas
E nos gerais?
Será que apenas os hermetismos Pascais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas
E nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo
Tins e bens e tais
© 1984 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Velô - Caetano Veloso.
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será, que será, que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas
E nos gerais?
Será que apenas os hermetismos Pascais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas
E nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo
Tins e bens e tais
© 1984 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Velô - Caetano Veloso.
Comentário do autor: "Esse disco traz a canção Podres Poderes, que tem muito a ver com o rock'n'roll, cuja letra tem muito a ver com os temas nos quais insisti ao longo desse depoimento, ligados ao desejo de que as minhas ações tenham uma função poético-política. E acho que tem, pelo menos na tentativa de dificultar a vida daqueles que trabalham para que não se dê a emancipação do povo brasileiro. Podres Poderes é uma canção de explicitação do imaginário que está por trás desse desejo - uma crítica à nossa incompetência e à teimosia em manter essa incompetência como um escudo contra a responsabilidade. É o meu tema. Além do esforço para furar esse cerco que faz com que o Brasil, até hoje, apesar de tudo pelo que passamos, ainda tenha essa esmagadora maioria de pessoas sem acesso aos bens materiais e culturais." (Caetano Veloso. Tantas Canções. Universal Music, 2002).