Por Quem? (Caetano Veloso)

Blush em minha fronha
Quem deixa
Esse cheiro bom assim?
Músculo que sonha
Vem

Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Quem vai
Ai, ai, ai, ai, ai
Quem sai
Ai, ai, ai, ai, ai
De mim

Foi a noite
Negros asfalto
Pneu e mar
Ranhuras da montanha
Descem até o vale
Lágrimas vão de mim
Por quem?
Por quem?

© 2009 Uns Produções (Natasha) - Álbum Zii e Zie - Caetano Veloso.

Comentário do autor: "Eu fiz a música e não sabia o que botar na letra. Me veio assim fora do esquema dos ritmos, do negócio da batida que eu queria fazer. Eu fiquei com aquela melodia um tempão sem saber o que botar. Experimentei um tipo de letra com umas palavras que não entravam... Depois veio essa palavra 'blush' na minha cabeça que tem tudo a ver com uma porção de coisa que já aconteceu na minha vida com a música popular. Por exemplo, eu botei a palavra 'lanchonete' em Baby porque eu odiava a palavra. Se eu pudesse eu fazia o mundo voltar atrás para o Brasil não adotar aquela palavra, naquela época. Aí eu botei porque era tão feia, cafona e esquisita. Eu botei porque aquilo me liberava. Eu tinha uma raiva danada das pessoas dizerem 'blush' em vez de dizer 'rouge' porque sempre foi 'rouge' a palavra do que a pessoa põe no rosto. E 'rouge' é uma palavra bonita. 'Blush' é uma palavra que eu achava horrorosa. Aí botei 'blush', a primeira palavra. Botei "Blush em minha fronha" e fronha já é uma palavra que, em português, é meio difícil. Ela tem uma certa tristeza, ela é noturna. Aí vieram aquelas coisas de "negros, asfalto, pneu e mar". Essa parte é totalmente documental porque eu durmo aqui e, no silêncio total da madrugada, você ouve passar o carro, mesmo com o som bem amortecido, você ouve. E as ondas mais do que o carro. Você ouve esses sons de pneu e asfalto do mar e está tudo preto de noite. Foram vindo coisas assim." (Caetano Veloso em depoimento para o canal Obra em Progresso, 2008).

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