Pulsar (Caetano Veloso, Augusto de Campos)


Comentário de Caetano: "Pensei muito menos o Pulsar do que dias dias dias. Na verdade tomei o poema como uma partitura simples e li essa partitura. Fiz em tão pouco tempo que fiquei desconfiado de que talvez ali não houvesse nada. Alguns ouvintes cultos tiveram de fato a impressão de que havia ali pouco trabalho e pouco pensamento. No entanto, embora por muito tempo eu julgasse que o que fiz com dias dias dias fosse mais rico, a princípio aceitei meu Pulsar por encontrar nele uma beleza cujo mecanismo eu não entendia conscientemente. Depois me apaixonei pela peça. Por isso a repeti tanto e em tão variadas versões. Não só ela é uma canção popular e, ao mesmo tempo, uma pequena obra experimental (a menção à minha Não Identificado¹ cai bem ali, mas não é necessária para fazer a ponte com a música popular, como fora o caso de Volta em dias dias dias): quando a percussão aguda que surge a cada estrela do texto, o "o" cantado no dó grave, o "e" cantado uma nona acima e o surdo que soa a cada lua são todos emitidos ao mesmo tempo (na coincidência de "eco" e "oco") – e isso precede a descida de piano para pianíssimo das duas palavras finais ("escuro esquece") – sinto que o tratamento singelo que esse poema magnífico recebeu de mim não o desmerece. O que não é pouco.” (Depoimento de Caetano Veloso. Livro: Sobre Augusto de Campos. Organizado por Flora Süssekind e Júlio Castañon. Fundação Casa Rui Barbosa, 2004). Nota 1: Na primeira versão do poema, Augusto citava Caetano no verso “como um objeto não identificado”, inserido entre “abra a janela e veja” e “o pulsar quase mudo”.


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