Recanto Escuro (Caetano Veloso)

Eu venho de um recanto escuro
O sol, luz perpendicular
Do outro lado azul do muro
Não vou saltar

Eu chego às portas da cidade
E nada procuro fazer
Espero, nem feliz nem gaia
Acontecer

Não salto mas sou carregada
Por asas que a gente não tem
A luz não me fulmina os olhos
Nem vejo bem

Em breve só saio de noite
A lua não me rasga o peito
Cool jazz me faz feliz e só
Não tenho jeito

O álcool só me faz chorar
Convidam-me a mudar o mundo
É fácil: nem tem que pensar
Nem ver o fundo

O chão da prisão militar
Meu coração um fogareiro
Foi só fazer pose e cantar
Presa ao dinheiro

Mas é sempre o recanto escuro
Só Deus sabe o duro que eu dei
Mulher, aos prazeres, futuro
Eu me guardei

Coisas sagradas permanecem
Nem o Demo as pode abalar
Espírito é o que enfim resulta
De corpo, alma, feitos: cantar

© 2011 - Álbum Recanto - Gal Costa.

Comentário do autor: "Recanto Escuro foi uma das primeiras canções que eu fiz para esse disco. Não foi a primeira, mas foi uma das primeiras. Foi a primeira que foi gravada. Eu fico impressionado porque eu pedi ao Kassin para fazer uma base e ele fez uma muito radical. A gente mandou para Moreno mostrar à Gal para ela botar uma voz para poder Kassin continuar trabalhando... Mandamos para a Bahia e Gal botou uma voz guia que nós mantivemos até hoje." (Caetano Veloso em entrevista no lançamento do disco Recanto, 2011). 

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