Trem das Cores (Caetano Veloso)

A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá
O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem
A Lua e a estrela, anel de turquesa

Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando, pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios
Ou pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos: Tocar na central
O céu de um azul, celeste celestial

© 1982 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Cores, Nomes - Caetano Veloso. 

Comentário do autor“Às vezes, fico atraído por uma palavra e tenho vontade de cantar, acho que ela deve ser ouvida, declamada, e aí ela puxa uma canção. Às vezes, não só uma palavra, mas um arranjo de palavras. Outro dia, eu estava voltando de São Paulo, de trem, estava olhando o céu, era de manhãzinha, estava tão bonito, límpido, que pensei: “o céu está azul celeste, celestial”. Fiquei pensando nisso e me veio uma música que termina exatamente como essa frase”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1981).

"Há muitas canções minhas que eu fiz para determinadas pessoas e disse de público. Às vezes, botei na própria contracapa do disco uma dedicatória, como Trem das cores, que fiz para Sônia Braga." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2009).
 

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