Zera a Reza (Caetano Veloso)
Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza
Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca
Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza
Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca
Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza
Não quero ter religião
Seja católica
Seja evangélica
Seja Hare Krishna ou candomblé
Ou seja umbanda
Moço bacana, sacana na TV de paletó
O eco repeteco vem da lama
E eu me sinto só
Minha reza é barulho
Minha reza é silêncio
Minha reza é movimento
Não venha torrar a minha paciência
E com eloquência engabelar a minha inteligência
Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza
© 2000 Uns Produções (Natasha) - Álbum Noites do Norte - Caetano Veloso.
Coementário do autor: "Eu ia fazer esse disco e só pensei nos sons, não pensei nas músicas. Fui ao estúdio em busca de sons e queria começar pela voz. Mas como eu estava com uma leve gripe, decidi começar com Zera a Reza, que eu já queria fazer com vozes sobrepostas. Decidi gravar primeiro a bateria e colocar a guitarra por cima. Liguei para o Cleber, que é baterista da banda Afro Reggae, da favela Vigário Geral, que toca hip-hop. Na época, ele tinha 16 anos. Eu queria colocar um violão de bossa nova / samba em cima do hip-hop. Zera a Reza é uma música meio contra a religião, com gosto pela festa. Fui influenciado por ouvir um disco de D'Angelo, que se sobrepõe a várias vozes. Não sou musical o suficiente para fazer nada perto do que ele faz, mas existe a presença disso. Tive vontade de misturar vozes sobrepostas, uma bateria de hip-hop e um samba-violão tipo João Gilberto." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001).
"O principal aqui era criar uma canção repetitiva que pudesse ser cantada a quatro vozes e se sobrepusesse a uma bateria dura, tipo hip-hop moderno, a qual deveria acompanhar um violão bossa nova tocando samba. As palavras da letra são uma brincadeira nada rigorosa com inversões e espelhamentos. São também um retrato sem retoque da complicada e irresponsável ansiedade com que encaro a questão da religião. Sou irreligioso e mesmo anti-religioso, mas tenho um temperamento místico." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).