Asthma (1970)
Asthma parece nome de um grande
místico oriental. Tal. Estou cansado do ocioriente. Não. Asthma parece o nome
de um dos estágios da alma mala portátil dos cosmos damião e doú. Doúm. Dou dois.
Doisdois é viajeiro. Ociorientalização é a palavra. Os issos do ofócio. Estou
cansado de escrever. Estou cansado de cidades exóticas como Londres. De cidades
exotéricas como Paris. De cidades. Os essos do eufácil. Cidades cedidas. O rio.
O barato. O aparato de glórias e lapas e catumbis. Laranjeiras, cajus, frutas,
frotas. Cidade cedida. Cidade cedida. Cidade cedida. Parado. Lépido. Pedal
lépido parado. Paralelepípedo. Lei. Eidos. Parados. Pálidos padeiros parados.
Pedro Pedreiro penseiro esperando o trem parado. Trapa trepa tripa tropa
metralha. Trabalhadores parados esperando parindo o trem parando. O trem da
mísica popular brisilaira. Mas da mísera mística asthma o nome de um grande
mástico oxidental.
Estou de sacro cheio. Droga.
Crime ocidental cagoete. Para dantes mais brandos e ogerisas mais sabias Tu,
Tutu. Profanos e contrafanos. Ócio. Acidente. Draga. Estou cansado. Chega!
Abaixo o zebundismo. Viva a Bahia. Avusa ao polvo da bahia de todos os santos
q'el rey d sebastião caiu no areal. De cima. E que maciel caiu no maciel de
baixo. E q pavlo francis caiu no cabeça. E q tarso de castro caiu no pau miúdo.
Mas muge o monge zebu. Bobo bebe baba. Zeus zebu. Bois zebrasileiros. No rio
grande do norte do sul. Longe dos bairros da saudade do salvador. Chove chumbo.
Chega!
Alguém me disse que tu andas
novamente. Quistorie-essa de rock brasileiro. O roque brasileiro não deve nada
ao soul americano mas em compensação o soul americano não deve nada à
decadência dos engenhos de pernambuco.
Alguém me disse que alguém disse
que o rock brasileiro não deve nada ao soul americano. Sal céu cio soul sul.
Estou cansado de tanta juventude. Chega de saudade. Eu não estou cansado de
nada que eu ainda sou muito jovem para isso. Quero é brincar de prosa poesia e
proesa. Cadê os novos baianos. O cruzeiro do sul disse mal escrito que existem
os verdadeiros novos baianos e que estes a quem busco os novos baianos são sujos
imundos não tomam banho e dormem embaixo das pontes e por isso não são os
verdadeiros novos baianos. O cruzeiro não é a verdadeira manchete. Fatos e
fotos não é o verdadeiro intervalo. Veja não é a verdadeira realidade. Estou
falando de vera. Vera. Eu quero a proesia. Eu quero as galáxias do poeta
heraldo de los campos. Quem não comunica dá a dica. Eu quero a proesia. I wanna
go back to bahia. Ou melhor: I wanna to go back to bahia.
Caetano Veloso.
O PASQUIM, RIO DE JANEIRO, 25 DE
NOVEMBRO DE 1970.
Fonte: Livro O Mundo Não É Chato. Caetano Veloso. Organizado por Eucanaã Ferraz. Companhia das Letras, 2005.