Flor do mal (1971)
eu sou filho do fogo e da lama
minha alma é a chama que incendeia os mangues do recôncavo da bahia
eu nasci numa cama emprestada
num dia
você não me conhece:
se eu morresse amanhã de manhã
minha falta ninguém sentiria
eu seria um entêrro tão badalado
que isto compensaria emocionalmente algumas pessoas de santo amaro.
minha alma não é nada
e as palavras que se dizem em mim são frias
e as minhas mãos estão frias, meu bem,
por que você me olha com esses olhos de loucura?
eu queria era pegar sua perna e apertar assim, assim...
mas existe um preconceito muito forte amarrando você em mim.
vocês ouviram o galo cantar e não sabem aonde
eu cantei por toda parte, mas sempre longe.
o tropicalismo é um neo-romantismo.
meu primeiro amor foi a primeira nota musical
ela era morena e assanhada e eu morria de amor
ela me ofendeu, me abandonou
e eu odiei para sempre a música.
meu segundo amor nunca passou
e o coração é descontínuo.
quando eu era menino
eu caminhava tímido pelas ruas de paralelepípedo:
carregar todos os olhares e todos os amores do país
nas costas era muito difícil.
eu sou bom, bondoso, humilde, português:
neste mundo não tenho vez.
estou só num dos lados da ponte:
ouvi o galo cantar e não sei aonde.
trago meu destino no coração:
sou do signo de leão.
oh, eu odeio
oh, eu odeio a música, eu odeio o pop music que vos leva
que vos leva embora depressa.
eu sou cruel e terrível:
não me interessa nada do que eu nunca tive.
não quero o reino dos céus:
só me interessa o que não é meu.
a cruz do crucificado:
o chico e o roberto carlos.
mesmo do lado de fora:
não permita deus que eu morra.
eu já morei na avenida são luís
no momento estou muito feliz.
eu sou um caranguejo de duas bocas:
uma inimiga da outra.
minha alma é a chama que incendeia os mangues do recôncavo da bahia
eu nasci numa cama emprestada
num dia
você não me conhece:
se eu morresse amanhã de manhã
minha falta ninguém sentiria
eu seria um entêrro tão badalado
que isto compensaria emocionalmente algumas pessoas de santo amaro.
minha alma não é nada
e as palavras que se dizem em mim são frias
e as minhas mãos estão frias, meu bem,
por que você me olha com esses olhos de loucura?
eu queria era pegar sua perna e apertar assim, assim...
mas existe um preconceito muito forte amarrando você em mim.
vocês ouviram o galo cantar e não sabem aonde
eu cantei por toda parte, mas sempre longe.
o tropicalismo é um neo-romantismo.
meu primeiro amor foi a primeira nota musical
ela era morena e assanhada e eu morria de amor
ela me ofendeu, me abandonou
e eu odiei para sempre a música.
meu segundo amor nunca passou
e o coração é descontínuo.
quando eu era menino
eu caminhava tímido pelas ruas de paralelepípedo:
carregar todos os olhares e todos os amores do país
nas costas era muito difícil.
eu sou bom, bondoso, humilde, português:
neste mundo não tenho vez.
estou só num dos lados da ponte:
ouvi o galo cantar e não sei aonde.
trago meu destino no coração:
sou do signo de leão.
oh, eu odeio
oh, eu odeio a música, eu odeio o pop music que vos leva
que vos leva embora depressa.
eu sou cruel e terrível:
não me interessa nada do que eu nunca tive.
não quero o reino dos céus:
só me interessa o que não é meu.
a cruz do crucificado:
o chico e o roberto carlos.
mesmo do lado de fora:
não permita deus que eu morra.
eu já morei na avenida são luís
no momento estou muito feliz.
eu sou um caranguejo de duas bocas:
uma inimiga da outra.
Caetano Veloso, 1971.
Fonte: Alegria, Alegria (Org. Waly Salomão), Rio de Janeiro, Pedra Q Ronca, 1977.