Maria Bethânia

Quem viu Maria Bethânia aparecer de repente na noite de um Rio triste na preparação do carnaval: quem assistiu o seu corpo gritar por um carnaval maior; compreenderá que este disco é um acontecimento importante: o início da divulgação em larga escala do trabalho de um artista intenso e urgente, como têm sido os grandes novos artistas brasileiros.

Quem, na Bahia, ouviu Bethânia prometer-se cantar como se todo o povo brasileiro cantasse junto ("sou filha de Caymmi como todo baiano; aluna de Jobim e João Gilberto, como qualquer novo sambista: mas sou também irmã de Noel e de Zé Kéti e minha vocação é o carnaval"), quem cantou com ela e esteve a seu lado no momento da escolha dos caminhos, verá com amor e cuidado que, irremediavelmente, sobre as costas da irmã já pesam as coisas grandes para as quais ela mal se preparara: dar de volta ao Brasil o samba que aprendera com seu povo; ser fiel às cores e dores da Bahia: salvar o carnaval.

Quem, mais longe, viu Bethânia nascer em Santo Amaro da Purificação (contra cuja resignação de cidade outrora próspera ela se lançará, primeiro por molequeiras e peladas, depois pela extravagância das roupas e pinturas) quem a viu redescobrir, nas festas de rua de Salvador, os sambas de roda que ela aprendera, desatenta, em Santo Amaro ouve comovido os sambas que Bethânia ajudou nascer na Bahia; ao lado da antologia que compõe a sua formação de sambista.

Caetano Veloso, s/d.

Fonte: Alegria, Alegria (Org. Waly Salomão), Rio de Janeiro, Pedra Q Ronca, 1977.

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