Canções do filme “Proezas de Satanás na vila de Leva-e-traz” - 1967 (Caetano Veloso, Paulo Gil Soares)

Canções do filme “Proezas de satanás na vila de leva e traz” (1967) de Paulo Gil Soares.

Direção: Paulo Gil Soares.
Música: Caetano Veloso.
Letras: Paulo Gil Soares, Caetano Veloso e versos populares.

Minuto 2 

A ti senhor
Ofertamos nosso sonho
Que é pura dor
De um bem estranho
Aurora e sofrimento
Que no choro gemina
Tecida em triste lamento
Começa onde termina

Damos o que nos foi dado
Este pouco bem, querido
Sonho louco temperado
Num cumpre já prometido

Minuto 4
A festa dos bichos (José Teixeira do Amaral)

Um dia mestre coelho
Fez uma festa no mato
Foi cachorro e jacaré
Gente demais, aparato
Finalmente todo bicho
Menos porco e mestre gato
Rato tocava na flauta
Periquito no rabecão
Caititu no contrabaixo
Cururu no violão
Mucuim no clarinete
E tatu no bombardão

Minuto 5

Quem sonha com velha cega
Falando em tesouro enterrado
Na enxada logo pega
Se pensar já tá errado
À meia noite sem falta
Vai no lugar indicado
E com a lua ainda alta
Tá o tesouro encontrado

Minuto 11

A velha no sonho dizia
O que já era esperado
Verdade que se sabia
Antes do sonho sonhado
Fortuna que vem do nada
Nas asas da ambição
Vem do mal acompanhada
Só traz é desilusão
Sou cego, mas tô olhando
Pra ver o que é que vai dar
Pra saber sabido visto
As coisa que irei contar
Favoreça, meu irmão
Que Jesus do céu lhe dá
Dê uma esmola ao pobre cego
Que não pode trabalhar

(Assobia “De manhã” ao violão)

Minuto 22

Loucos filhos da tristeza
(Tende piedade de nós)
Feitos de muitas fraquezas
(Tende piedade de nós)
Pela vida torturados escravos sem ter razão
(Tende piedade de nós)
Pelos ricos dominados
(Tende piedade de nós)
Na vária escravidão
(Tende piedade de nós)
Na aflição do momento
(Tende piedade de nós)
Desesperados e sós
Lançamos triste lamento
(Tende piedade de nós)
Tende piedade de nós.

Minuto 29

...
Pra dançar no terreiro
A vós (?) imploramos
Cordeirinho de Deus
Dança na calçada
Que a dona de casa teme alma penada
Cordeirinho de Deus
Dança no salão
Que o dono da casa teme assombração
Cordeirinho de Deus tenha piedade
Lava nossos males com sua bondade
Cordeirinho bonito
Que tira pecado
Esse povo aflito quer ser perdoado

Minuto 35

Os que aqui se guardaram
Cansados da triste vida
Uma incelença ensinaram
Que agora é carecida
Diz um “a” ave maria
Diz um “b” bem e beleza
Diz um “c” canto alegria
Diz um “d” Deus é grandeza
Diz um “e” é hora agora
Diz um “fê” frágil temor
Diz um “guê” guardo embora
Diz um “h” haja o amor
Diz um “i” irei cantando
Diz um “ji” já me salvei
Diz um “lê” louvo adorando
Diz um “mê” meu Cristo rei
Diz um “nê” não falta luz
Diz um “o” onde eu estou
Diz um “p” pois foi Jesus
Diz um “q” quem me salvou
Diz um “rê” rezo incelença
Diz um “si” sinceramente
Diz um “t” tenho a crença
Diz um “u” um Deus somente
Diz um “v” vão-se olhos meus
Diz um “z” zelando a Deus

Minuto 44
Cavaleiro (Caetano Veloso)

Quem vem lá sou eu
Quem vem lá sou eu
A cancela bateu
Madrugada rompeu
Cavaleiro, sou eu

Quem vem lá sou eu
Quem vem lá sou eu
Cavaleiro, sou eu
Longa estrada no breu
Cavaleiro, sou eu

Quem vem lá sou eu
Quem vem lá sou eu
A tarde escureceu
No caminho de Deus
Cavaleiro, sou eu

Minuto 47
A chegada de Lampião no inferno (Adaptado)

Um cabra de Lampião
Do nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão anda fazendo visão
Correndo mal-assombrado

Foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar
O inferno nesse dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tentação queimado
Que faz pena inté contar

Morreu a mãe de Candinha
O pai de forrobodó
Cem netos de Parafuso
Um cão chamado Cotó 
Escapuliu Boca insossa
E uma moleca moça
Quase queimava o totó

...

Eu te darei a resposta
Quando tu me arresponder
Quatrocentos rabanetes
Quantas folhas pode ter?

Um português com uma preta
O que é que pode fazer?

Minuto 50
Cavaleiro (Caetano Veloso)

Sou eu sete légua de estrada
Sete noite acordada
Sete braço de mar
Sou eu sete samba-de-roda
Sete palmo pra morte
Sete morte no olhar
Sou eu sete vida perdida
Sete zanga sem briga
Nesse canavial
Sou eu, vim chamar o meu povo
Trago tudo de novo
Vamo tudo acabar

Quem vem lá sou eu
Quem vem lá sou eu
A cancela bateu
Madrugada rompeu
Cavaleiro sou eu
Cavaleiro sou eu

Minuto 56

A nossa fragilidade
Confessamos já agora
Quando o medo nos invade
A esperança vai embora
O que resta a quem não tem
Espada de fogo ou asas
Só as rezas de amém
Ou trancar-se den'de casa 
Talvez cantando incelência
A vida volte a ter calma
Amor finando esta crença 
Que o medo gera na alma
A nossa memória ensina
A memória do passado
Fogo da ira divina
Sobre a Terra derramado
O que nos resta fazer
Perdidos na tempestade
Continuar a sofrer
Para ganhar a eternidade
As almas abandonadas
Nesse pequeno rincão
Reza incelência cantada
Implorando o seu perdão

Minuto 58

Virgem Maria mãe de Deus imaculada 
Vira e mexa na jogada
Pr'esse povo se salvar
Virgem das virgens
Esse povo pobre, aflito
Que só reza por bendito
Também quer no céu morar

Minuto 1:00:00

Bendita, seja louvada
Santa Maria
Mãe do pobre pecador
Vira, mexe no andor
Mudando tudo pro bem
Virgem amável
Virgem mãe inviolada
No céu quero a morada
Para eternamente amém 


Minuto 1:03:00

Vai se acabar a pobreza
... a natureza
Dentro de mim a caridade
Glória glória aleluia

Peixe no prato farinha na cuia

Vejo campos arados 
Onde antes era sertão
Desses campos semeados
Brotará o nosso pão

Glória glória aleluia

Minuto 1:05:00

Daquele dia pra frente
Ninguém mais sofreu sozinho
E Leva-e-traz de repente
Palmilhou novo caminho
O cego lá hoje em dia
Enxerga sem ter luneta
Bicicleta é montaria
De quem antes era perneta
... metido
Só com menina faceira
O surdo toca de ouvido
O mudo canta nas feira
As mulheres parideira
Não precisa operação
Tem parto sem ter parteira
Que os filho vem de avião
As casas feita de pão
Com os telhado de quarada 

Minuto 1:09:00

Ruas de favo de mel
De abelhas italiana
As calçada de pastel
Cheios de uva americana
A vida por lá, meu caro
Embora não seja raro
Quem viva a cento e oitenta
Doença lá não existe
Nem remédio de injeção
E quando alguém desiste
Quer morrer faz cuitição

Minuto 1:18:00

Miserere nobis
Miserere nobis
Miserere nobis

Agnus Dei
Qui tollis peccata mundi
Miserere nobis
Agnus Dei
Qui tollis peccata mundi
Miserere nobis
Miserere nobis
Miserere nobis

Perdoai nossa miséria
Os nossos olhos sem luz
O nosso choro sem lágrimas
Nossa falta de cruz

Nossa dor imensa
Paz não encontrada
Fé sem ter a crença
De uma nova madrugada

Perdoai o nosso erro
A nossa falta de amor
O funeral sem enterro da nossa miséria
Senhor
Senhor

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