Laços misteriosos unem seu trabalho ao meu (1995)

Hélio Eichbauer é a figura central oculta do Tropicalismo. O rei da Vela não seria sem ele. Não por acaso o cenário do segundo daquela montagem histórica voltou como capa do disco (e cenário do show) Estrangeiro, onde eu retomava conscientemente temas e procedimentos da Tropicália em tom de exportação atualizada. Este é apenas um dos laços misteriosos que unem seu trabalho ao meu.
Na verdade, há muito que tudo indicava uma colaboração efetiva entre nós. Mas - inclusive confirmando a mensagem do Rei da Vela - eu fiz de minhas apresentações, por muitos anos, acontecimentos espontâneos, sem desenho ou controle. À medida que uma considerável formalização dos espetáculos foi-se mostrando necessária, Hélio ia naturalmente tomando posição determinante na feitura deles. O resultado é que meus shows têm sido, por causa dele - por causa da natureza especial de nossa parceria -, dos mais bonitos que se podem ver no mundo.
Hélio é um profissional exigente que torna fácil o trabalho para quem esteja disposto a fazer as coisas certas, e impossível para quem não esteja. Tem um genuíno horror à vulgaridade, o que é qualidade essencial para se produzir shows de música popular esteticamente válidos neste período pós-pop. Para mim é um luxo poder contar em meus espetáculos de divertimento com o refinamento de grande artista que faz de Hélio Eichbauer o melhor cenógrafo do teatro brasileiro.

Caetano Veloso.
Jornal do Brasil, 1995.

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