Ciclâmen do Líbano (Caetano Veloso)

Que as almas se chamem
E os corpos se amem:
Eis, poderosíssimos,
O que produzíamos
De signos divinos.
Teus cantos morenos
Onde os meus não menos
Perna, braço, artelhos,
Enfim, cada membro
Aninha-se - e espelhos
Dão-se entre os dois Vênus
De montes vermelhos
E vales amenos.

Que os anjos reclamem
E nos céus proclamem
Teu sol-mel dulcíssimo,
Flor em carne-espírito:
Ciclâmen do Líbano.

© 2021 Uns Produções / Sony Music - Álbum Meu Coco - Caetano Veloso.

Comentário do autor: "Pensei num amor vivido. Origem libanesa. Nome da cor que meu irmão Rodrigo destacava: Ciclâmen. Descoberta da flor de onde veio o nome desse tom de magenta. A flor como representação mental do segredo do corpo da mulher. Segredo revelado mas eternamente segredo. Senão não há mágica. Almas seguem chamando para que exista milagre de amor nos corpos. Quis voltar à minha levada que Djavan homenageou e Gil chamou de "Marcha Caetaneada". Num andamento mais lento, mais erótico, mais dengo-carinhoso. Pedi a Jaquinho que pensasse no oriente e ouvisse Webern. Conversa de maluco. Saiu beleza intensa na entrada da orquestra." (Caetano Veloso para o storyline do Spotify, 2021).

"Repito a palavra Líbano em um ritmo lento, repetitivo. O conteúdo é explicitamente terno e sexual. Mas todo mundo pensa inevitavelmente nos momentos amargos que este país está passando. Já estive em Beirute e sei como esta terra e seu povo são lindos." (Caetano Veloso para a AFP, 2021).

"Nasceu da lembrança de um amor. E da palavra "ciclâmen" (assim pronunciada) repetida por meu irmão Rodrigo quando eu era menino. Era o nome de uma flor. Mais recentemente vi na internet imagens da flor, que dá principalmente em regiões do Líbano. A pessoa a quem a canção se refere tem ascendência libanesa. Para mim, resultou na faixa mais bonita de se ouvir no disco. Com a base que armei com Lucas Nunes e o som extraordinário das cordas de Jaques Morelenbaum." (Caetano Veloso para o portal GZH, 2022).

"É uma canção de amor. O ciclâmen é uma flor do Líbano, bonita, com uma cor magenta. E eu conhecia "ciclamen" como o nome de uma cor, depois fiquei sabendo da flor. Então, a canção é sobre uma mulher de origem libanesa com esse nome. Eu acho que tem uma conotação sexual, e quis fazer aquela "marcha caetaneada", mas mais lenta, pro ficar mais no âmbito do gostoso. Pedi a Jaquinho pra escrever um negócio de cordas, dei umas sugestões e terminou ficando mais bonito do que eu esperava. Ele faz uns fraseados que tem a coisa do Oriente Médio e tem algo de Webern, porque eu pedi a ele pra ouvir, e o resultado foi o que eu sonhava. Botei como segunda faixa do disco porque achei que ficou como a realização de uma total beleza." (Caetano Veloso para a Revista Noize, 2023).

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