Gilgal (Caetano Veloso)

Vem de Pixinguinha a Jorge Ben
Pousa em Djavans 
Wilson Batista, Jorge Veiga,
Carlos Lyra e o imenso Milton Nascimen
Vem de Pixinguinha a Jorge Ben

Ele me ensinou
O sentido do som
E eu quis ensinar
O sem som do sentido
Vem de Pixinguinha a Jorge Ben

Pousa em Djavans
Nossas almas irmãs 
Rasgaram manhãs 
Mas sem
Chegar aos pés dos Tincoãs 

© 2021 Uns Produções / Sony Music - Álbum Meu Coco - Caetano Veloso.

Comentário do autor: "Vi a palavra "Gilgal" no romance "José e Seus Irmãos", de Thomas Mann. Já a usei em Este Amor, do Estrangeiro. Aqui ela volta no título. E tudo flutua sobre a percussão de Moreno. Uma linhagem de pretos gênios que inclui, de repente, Carlos Lyra que, como Ary, Chico e Noel, não é preto. Pensei em cantar não sozinho. Vozes agudas em uníssono sobre os tambores. Chamei Dora Morelenbaum. Ela cantou tão perfeito que mantive só nossas duas vozes. Começo só, mas uma estrofe depois ela entra. E não sai mais." (Caetano Veloso para o storyline do Spotify, 2021).

"GilGal é faixa nobre. O canto de Dora Morelembaum colado ao meu flutua sobre o que é básico: Moreno no candomblé. Seu rosto e suas mãos sábios conduzem o surgimento de Gal e Gil no cubo mágico do nosso mundo." (Caetano Veloso em post nas redes sociais sobre o visualizer da canção, 2021). 

"Foi vindo, começou com os nomes de Meu Coco [sobre o disco ter tantas referências da música brasileira]. Nomes de mulheres, depois nomes de pessoas e, finalmente, nomes de compositores, que apareceram em outras canções também. Quando chegou na GilGal, aí veio uma linhagem mais de compositores e músicos negros, né? No entanto, o Carlinhos Lyra está no meio. Porque ele era o favorito de Gil quando nós nos conhecemos no mundo da bossa nova. Então, o nome dele veio espontaneamente no verso. [E termina com Tincoãs, um dos grandes grupos da música baiana, da tradição afro-brasileira] É, uma turma maravilhosa. Eu adoro, sempre adorei, e veio na minha cabeça. E "Djavans" vem no plural, né? "Pousa em Djavans". [Por quê?Porque Djavan se multiplicou pelo Brasil. Você chega na praia de Copacabana e tem um pessoal tocando, num bar em Belém do Pará, em Natal, em Porto Alegre. Tem sempre alguém cantando ao vivo, de noite, reproduzindo o Djavan. Então, Djavans é uma pluralidade. "Nossas almas irmãs" é falando de eu e Gil e Gal. Porque GilGal é uma palavra bíblica, mas junta os dois nomes. É curioso que haja essa palavra. E "Ele me ensinou/ O sentido do som" é Gil, né? Aí vem de Pixinguinha a Djavans. E "Nossas almas irmãs/ Rasgaram manhãs", eu, Gil e Gal cantando, digamos abrindo vozes nos Doces Bárbaros, né? Mas sem chegar aos pés dos Tincoās." (Caetano Veloso para a Revista Noize, 2023).

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