Nana Caymmi (1992)

Sou louco por Nana. Ela é a verdadeira Ponta de Areia. Ponto final da Bahia-Minas. Que, no caso dela, é uma estrada mesmo muito natural. Sestrosa, sensual e marítima por parte de cá; sombria, litúrgica e desconfiada por parte de lá; ritmo vital - harmonia metafísica; os dois lados da caverna da sua voz são varridos por fachos de luz celeste. Sonho com ouvi-la cantar minha "Itapuã". Quando um bando de idiotas a vaiaram nos festivais, eu ia para o quarto dela e de Gil e pedia que ela cantasse sem parar. Ela é alguém com quem a gente pode se zangar que não afeta o fundamental. Como pode alguém ser tão vulgar e tão nobre ao mesmo tempo? Hoje ela ainda xinga, ainda grita, ainda agride, ainda mente: mas já é tudo uma autoparódia feita por uma mulher capaz de grande serenidade. Ela transcende.

Caetano Veloso.

Jornal O Globo, 24 de abril de 1992.

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