Caetano Veloso enaltece o reggae do Natiruts e reflete sobre carreira

Entrevista para o Portal Metrópoles (11 de julho de 2023)

Por Ranyelle Andrade

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Foto: Divulgação

A variedade oferecida pela música brasileira é extensa e repleta de talentos, mas poucos nomes brilham como o de Caetano Veloso. Aos 80 anos de idade, mais de 60 dedicados à carreira, o compositor, cantor e escritor segue cativando gerações com a fusão harmoniosa entre a arte e a consciência.

Em atividade pelo Brasil e demais países da América do Sul com a turnê Meu Coco, o baiano, nascido em Santo Amaro da Purificação, tranquiliza os fãs sobre os rumores de aposentadoria. “Não tenho nenhum plano de deixar os palcos”, afirma, em entrevista ao Metrópoles. O artista vai se apresentar, no dia 30 de julho, no Na Praia, no mesmo dia da banda Natiruts.

É importante os brasilienses se apressarem porque a tendência, contudo, é que o privilégio de vê-lo ao vivo e a cores seja cada vez mais restrito. Após mais de 40 álbuns lançados, 10 milhões de discos vendidos, vários Grammys, sem mencionar o enfrentamento à censura e ao exílio, Caetano quer levar uma vida mais tranquila.

Ele pretende cessar os shows fora do país, passar mais tempo próximo à família e, quem sabe, regressar à terra que exalta na canção Onde o Rio é mais Baiano.

“Tomara que eu chegue aos noventa [anos, no palco]. Ou, como minha mãe, passe dos cem. Só tenho a fantasia de voltar a viver em Salvador e cantar sempre em algum lugar da cidade – e quem quiser me ver e ouvir que vá lá. Só não planejo, de fato, fazer isso já, porque meus filhos e meus netos vivem no Rio, têm sotaque carioca”, explica.

Show em Brasília

Ao longo da carreira, Caetano transitou por diferentes estilos musicais, experimentou e mesclou influências, mas garante que sempre foi o mesmo artista.

“Comecei como discípulo da bossa nova, mas já avisando, na contracapa do disco Domingo, que gravei ao lado de Gal, que me via à beira de uma mudança de rumo. Deu no tropicalismo, quando criações-comentários sobre diversos gêneros e estilos — muitos deles desqualificados pela perspectiva crítica que se organizara a partir da bossa nova — eram visitados, celebrados ou parodiados”, lembra o compositor.

“Mas sempre fui eu fazendo essas coisas. Meu timbre, minhas limitações, minhas características musicais e pessoais estavam ali. Busquei novidades principalmente nas escolhas do que ressaltar. Mas também ousei alguma experimentação formal ou técnica. Em tudo, tenho sido o mesmo cara”.

Em 30 de julho, Caetano dará uma amostra da sua versatilidade ao dividir o mesmo lineup com os músicos do Natiruts, na programação do Na Praia. A primeira vez que o baiano e os brasilienses estiveram juntos foi em março de 2022, no Ato pela Terra.

O encontro é, praticamente, uma celebração do reggae produzido nacionalmente, embora a afirmação possa soar estranha para quem não tem intimidade com a obra de Caetano Veloso.

“Tenho a honra de ter gravado os primeiros compassos de reggae da música brasileira, no disco Transa, para abertura e fecho de Nine Out Of Ten. Me apaixonei pelo reggae em Notting Hill Gate, ouvindo gravações jamaicanas em Portobello Road, antes de o ritmo se tornar conhecido no Brasil”, conta.

“Eu estava exilado e, quando pude voltar, a censura em Salvador queria proibir a canção porque não encontravam a palavra ‘reggae’ em nenhum dicionário”, completa.

O veterano faz questão de destacar que acompanha e admira o trabalho de Alexandre Carlo. “O Natiruts tem um som gostoso e é uma marca forte na cena musical brasileira. Eles tocam reggae com prazer e verdade”.

Profecias

Da pandemia para cá, a música popular brasileira se despediu de vários de seus ícones: João Gilberto, Agnaldo Timóteo, Paulinho, do Roupa Nova, Moraes Moreira e mais recentemente, Gal Costa e Rita Lee. Apesar da sequência de perdas, Caetano acredita que não há porque se preocupar com o futuro da MPB, mas evita cravar quem serão os artistas a continuar seu legado.

“Esse é um tipo de profecia que não sei fazer. Há tantos jovens talentosos surgindo em áreas diferentes que não arrisco”, ressalta.

Ele lembra ter citado alguns colegas “velhos e novos” no disco em Meu Coco. A lista dos nomes reverenciados na canção Sem Samba Não Dá inclui Ana Vitória, Marília Mendonça, Gloria Groove, Maiara e Maraisa, Yoùn, Djonga, MC Cabelinho, Baco Exu do Blues, Gabriel do Borel, Tz da Coronel, Hiran, Majur, Simone e Simaria e Leo Santana.

“Achei curioso que Bob Dylan tenha feito algo assim com a canção americana em suas mais recentes gravações. Mas quando Arto Lindsay me mostrou uma faixa lindíssima do bardo judeu romântico de Minnesota, em que ele canta uma lista de nomes de músicos, já tinha feito Meu Coco e a maioria das canções do álbum de mesmo nome”, conta.

“E o álbum Cores, Nomes — cujo nome é assim, com uma vírgula: fico irado quando o chamam de “cores e nomes” — está cheio de nomes célebres e íntimos”, completa.

Ao final da conversa, Caetano menciona dois jovens artistas, que valem a pena ficar de olho: “Não tenho dúvida de que Giuliano Eriston sempre cantará. É bom demais. E assim muitos outros de quem não falo aqui. Sempre digo que Tiago Amud é excelente. Isso só dois e da área chamada MPB. Tem muito mais”.

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