Santa Clara, Padroeira da Televisão (Caetano Veloso)

Santa Clara, padroeira da televisão
Que o menino de olho esperto saiba ver tudo
Entender certo o sinal certo se perto do encoberto
Falar certo desse perto e do distante porto aberto
Mas calar
Saber lançar-se num claro instante.
Santa Clara, padroeira da televisão
Que a televisão não seja o inferno, interno ermo,
Um ver no excesso o eterno quase nada (quase nada)
Que a televisão não seja sempre vista
Como a montra condenada, a fenestra sinistra
Mas tomada pelo que ela é
De poesia.

Quando a tarde cai onde o meu pai
Me fez e me criou
Ninguém vai saber que cor me dói
E foi e aqui ficou
Santa Clara

Saber calar, saber conduzir a oração
Possa o vídeo ser a cobra de outro éden
Porque a queda é uma conquista
E as miríades de imagens suicídio
Possa o vídeo ser o lago onde Narciso
Seja um deus que saberá também
Ressuscitar

Possa o mundo ser como aquela ialorixá
A ialorixá que reconhece o orixá no anúncio
Puxa o canto pra o orixá que vê no anúncio
No caubói no samurai no moço nu na moça nua
No animal na cor na pedra vê na lua vê na lua
Tantos níveis de sinais que lê
E segue inteira

Lua clara, trilha, sina
Brilha, ensina-me a te ver
Lua lua continua em mim
Luar, no ar, na TV
São Francisco

© 1991 Uns Prod. - Álbum Circuladô - Caetano Veloso. 

Comentário do autor: "No meu disco novo tem uma oração a Santa Clara porque dizem que ela é padroeira da televisão. É uma oração pela televisão." (Caetano Veloso. Programa Cara a Cara com Marília Gabriela. TV Bandeirantes, 1991).

"Me apareceu na cabeça porque a Regina Casé me disse que a Santa Clara era a padroeira da TV. Eu quis fazer uma canção, porque eu prefiro rezar pela TV do que 'envuduzar' a TV. (Caetano Veloso em depoimento a Marcia Cezimbra, 1991).

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